quinta-feira, 9 de outubro de 2008

DOCUMENTÁRIO ITALIANO SOBRE IMIGRAÇÃO ILEGAL NÃO CONSEGUE CHEGAR AOS CINEMAS.

08/10/2008

Os diretores do documentário "Come um uomo sulla terra", que trata das dificuldades enfrentadas pelos imigrantes africanos que tentam chegar na Itália, denunciaram esta semana dificuldades políticas para conseguir a distribuição do filme no país.

Os cineastas Andrea Segre, Riccardo Biadene e Dagmawi Yimer foram premiados em setembro no festival italiano Salina Doc Fest por seu trabalho de documentação dos imigrantes que chegam todos os meses à Líbia com o sonho de alcançarem a Europa, mas agora não conseguem encontrar um distribuidor. "Com certeza a coisa não é extremamente simples, também por motivos políticos", comenta Segre.

Entre outras coisas, o filme aborda as relações entre a Itália e a Líbia no que se refere à imigração clandestina, incluindo um acordo assinado entre o premiê italiano, Silvio Berlusconi, e o líder líbio Muamar Khadafi em 2003.

"A maior culpa do governo italiano é a miopia. Por motivos de pequenas contingências políticas, estamos assumindo uma responsabilidade que se revelará muito grave", acrescentou Segre.

De acordo com o documentário, foi com dinheiro italiano que se construiu a prisão de Kufrah, no sul da Líbia, onde os imigrantes detidos são vítimas de privações, agressões físicas e violências sexuais.

"O que peço à Itália em relação ao acordo com a Líbia é que tenha em mente o respeito aos seres humanos. Em vez disso, esse país que amo e onde quero continuar a viver está se desvencilhando dessa responsabilidade. Limitar-se a fornecer dinheiro para bloquear o fluxo de clandestinos não é um comportamento que se espera de um Estado democrático", declarou Yimer, ele mesmo emigrante, que chegou à Itália em 2006.

O etíope de 24 anos era estudante de direito em seu país e hoje é professor de italiano na associação Asinitas (centro de educação e assistência aos imigrantes) em Roma, onde conheceu os italianos Segre e Biadene, que organizam laboratórios de vídeo.

"Parti sem me despedir, tinha medo de magoar meu pai", disse Yimer, recordando sua partida em 2005. O etíope passou meses terríveis na Líbia, onde foi preso diversas vezes e vendido a traficantes, até conseguir chegar a Lampedusa, no sul da Itália, em julho de 2006.

"A chegada a Lampedusa foi para mim o final de um pesadelo. Para mim é um dever moral realizar esse documentário, dar voz a todos aqueles que não a tem mais, cujos direitos são ainda hoje desrespeitados", lembrou Yimer.

"Os políticos falam sobre os desembarques em Lampedusa para criar alarme sobre a imigração, mesmo que a cada ano cheguem ali 18 mil pessoas, um décimo da cota de imigração fixada pela Itália, que é de 180 mil pessoas", disse Segre.

"Mas me causa muito prazer o interesse que vários setores da Itália estão mostrando pelo filme. Já temos programadas até fevereiro pelo menos 20 projeções. É uma demonstração de que existe uma Itália que quer se confrontar com essa realidade", concluiu.

ANSA

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