De estilista a deputado federal: a trajetória de Clodovil
Clodovil Hernandes nasceu em 17 de junho de 1937, na pequena Elisiário, a 400km de São Paulo, cidade que hoje tem pouco mais de 3 mil habitantes. Filho de pais adotivos, Clodovil cresceu no interior e vivia desenhando vestidos e outras roupas nos cadernos do colégio interno em que estudava.
AE |
Ele abraçou a profissão de estilista ao se mudar para São Paulo, aos 20 anos. Em pouco tempo decolou na carreira de estilista, rivalizando com Dener, até então único ícone da moda no Brasil. Vestiu gente famosa como a atriz Cacilda Becker, a cantora Elis Regina e membros das tradicionais famílias Diniz e Matarazzo. Em 1971, aos 34 anos, já comandava seu próprio ateliê na prestigiada rua Oscar Freire.Na televisão, estreou nos programas vespertinos da TV Tupi, mas atingiu o estrelato em 1980, com o programa feminino “TV Mulher”, na rede Globo, ao lado da então sexóloga Marta Suplicy. Querido pelas donas-de-casa, desenhava vestidos ao vivo e tirava dúvidas sobre moda, decoração e etiqueta, mais ou menos como Dener fizera na década de 1970, no “Programa Flávio Cavalcanti”.
Quando Clodovil aparecia, “TV Mulher” dava picos de até 20 pontos de audiência. O sucesso era tanto que as calças jeans desenhadas por ele viraram mania no País e o nome Clodovil se transformou até em marca de chocolate. Recentemente, Alexandre Herchcovitch declarou: “[Clodovil] foi a primeira grande voz do mundo da moda no Brasil. Ele é e sempre será um ícone”.
Língua afiada e processos
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A ampla exposição e a galeria de alfinetadas rendeu a Clodovil uma avalanche de processos. Um dos mais famosos aconteceu em 2004, quando estava à frente do “A Casa É Sua”, na Rede TV!. Ao comentar a reclamação de Agnaldo Timóteo da falta de fiscais para coibir a venda de CDs piratas no centro de São Paulo, disse: “Tem que vender disco na rua [...] Ele vai fazer o que todo crioulo faz no Brasil? Vai virar ladrão, bandido ou o quê?”.
O comentário motivou um processo por racismo da vereadora Claudete Alves (PT). Clodoviu rebateu no ar. “Aposto que essa vereadora é uma macaca de tailleur metida a besta”, disse. Mais tarde, asseverou que a declaração não tinha ligação com a cor da pele da então vereadora, que é negra, mas porque ela queria aparecer às custas dele. A emenda não adiantou e o apresentador foi condenado a pagar 80 salários mínimos – cerca R$ 20.800 na época – à petista. Acabou saindo da emissora pouco tempo depois, após se desentender com os humoristas do “Pânico na TV”, que o perseguiam sem dó no quadro “Sandálias da Humildade”.
Clodovil já atacou de ator e até cantor. Seu último papel de destaque foi o musical teatral “Eu e Ela” (2006), com direção de Elias Andreato, no qual dançava, declamava poesias e interpretava canções como “Tatuagem”, de Chico Buarque, “Ne Me Quitte Pás” e “La Vie en Rose”.
Clodovil na política
A vaga na Câmara dos Deputados, assumida em 2007, foi a primeira experiência política de Clodovil. Ele venceu as eleições, em 2006, pelo Partido Trabalhista Cristão (PTC), com a terceira maior votação entre os eleitos a deputado federal do Estado de São Paulo, somando 493.951 votos. De pronto, rejeitou a pecha de ter catalisado votos de protestos e prometeu respeitar seus eleitores.
Ainda em 2007, Clodovil migrou para o Partido Republicano (PR), provocando a abertura de um processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por parte do PTC, que reivindicou a vaga baseado na fidelidade partidária. Na última quinta-feira, dia 12, a Corte acolheu o argumento de Clodovil de que sofria grave discriminação pessoal dentro da legenda e de que não tivera o apoio do PTC em sua campanha. Ele também teria sido pressionado a nomear indicados pelo partido na composição de seu gabinete.
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Clodovil era titular nas comissões de Direitos Humanos e Minorias; de Educação e Cultura; e de Relações Exteriores e de Defesa Nacional. O deputado também atuava como suplente na Comissão de Seguridade Social e Família. Ao assumir o cargo, Clodovil declarou que não tinha uma bandeira específica a defender na Casa, mas iria implantar a política “do amor, do afeto e do respeito”.
Atualmente, 16 propostas de autoria de Clodovil tramitam na Câmara em condições de ir a voto. Entre elas está o PL 2374/07, que torna obrigatório o exame de próstata para os trabalhadores do sexo masculino com idade a partir de quarenta anos. A proposta visa prevenir este tipo de câncer, doença que ele enfrentou em 2005, tendo que passar por uma cirurgia para a retirada do tumor.
Polêmico
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Crítico da letargia do Congresso Nacional, Clodovil defendeu em seu último discurso no plenário da Câmara, em novembro do ano passado, proposta de emenda constitucional, de sua autoria, prevendo a redução do número de deputados federais. A ideia seria passar dos 513 para 250, limitando cada Estado a ter, no máximo, 30 representantes. São Paulo, Estado pelo qual foi eleito, tem 79 vagas atualmente.
Talvez Clodovil tenha sido um péssimo deputado, mas se comparar aos que lá (no Congresso) estão, teve a dignidade de não enganar o povo brasileiro.
Usou de retidão, honestidade, temperamento e intolerância por tudo aquilo que punha máscara com o intuito de enganar quem quer que fosse. Não o fez. Pelo contrário, queimou-se, porque não vestiu máscara do engodo.
Foi intolerante com a fraude, com a má fé. Superou toda perseguição, venceu. Deixa uma marca indelével de um braisileiro que buscou nas oportunidades midiáticas, a defesa da transparência e da honestidade, virtude tão pouco defendida nesta republiqueta chamada Brasil..
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