sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Italianos evitam restaurantes e buscam alternativas mais baratas.

Por Mara Rocha

Comer bem é importante para a saúde. Ajuda no funcionamento dos órgãos do corpo e na prevenção de futuras doenças, como hipertensão, obesidade e probemas cardiovasculares. Pode ser também um prazer quando o prato em questão é servido em uma mesa com toalha quadriculada e uma boa taça de vinho, em uma típica cantina italiana. Ato prazeroso, mas caro. Com a crise econômica, fazer uma refeição em um restaurante na Itália se tornou um luxo. Com o dinheiro contado, os italianos tendem a adaptar os seus hábitos alimentares, evitando os restaurantes e substituindo a refeição completa (primeiro e segundo pratos) por alternativas mais baratas.

Com a crise econômica, fazer uma refeição em um restaurante na Itália se tornou um luxo.


Os pratos únicos trazidos de casa, um sanduíche e uma fatia de pizza comprados no bar mais próximo, ou as saladas prontas vendidas nos grandes supermercados são a solução de estudantes e trabalhadores italianos para a economia de, em média, 160 euros por mês com almoço. Alternativa adotada pela professora Elisa Catenazzi (27). Sem tempo para almoçar em casa, come uma fatia de pizza ou um pedaço de focaccia na padaria, quando não consegue levar uma salada para o trabalho.

A professora Catenazzi evita restaurantes e bares, porque são muito caros: “uma fatia de pizza custa dois euros, enquanto um sanduíche no bar, 3,5 euros. Com a água ou refrigerante se gasta um total de, mais ou menos, cinco euros por dia”, reclama. O mesmo vale para os restaurantes, onde, segundo Catenazzi, os pratos custam, no mínimo, dez euros. “Como fora somente em ocasiões especiais e sempre mais raramente. E se há pouco tempo era possível ir a uma pizzaria sem gastar muito, agora até as pizzarias aumentaram os preços”, lamenta.

Com uma breve pausa para o almoço, a cabeleireira Manuela Maioceli (31) e sua assistente Sabrina Giorgi (18) comem um sanduíche ou salada no bar perto do salão de beleza onde trabalham. “Cada uma gasta cerca de cinco euros por dia. Ao final do mês, é uma boa soma de dinheiro ”, conclui Maioceli. A cabeleireira também reclama dos problemas causados pela sua má alimentação. “Quando exagero nos sanduíches, meu estômago dói”, explica. O mesmo acontece com Giorgi “me faz mal o estômago e, além disso, depois de tanto tempo comendo as mesmas coisas, perco a vontade de comer”. Maioceli planeja comprar um microondas para o salão “assim vamos poder trazer a comida saudável de casa e economizar dinheiro com as refeições”, conta.

A médica Nora Colombo (30) leva, todos os dias, a comida de casa. “Tenho pouco tempo para almoçar e é melhor não gastar dinheiro comendo sanduíche”, diz. Colombo também evita os restaurantes, indo somente em ocasiões especiais. “Não tenho noção do quanto chego a economizar, mas prefiro não fazer gastos desnecessários”, justifica.

Com mais tempo para o horário de almoço, o responsável por uma cooperativa de pedreiros Giovanni Bianchi (41) almoça em casa. Ele não faz a refeição italiana completa (primeiro e segundo), mas um prato único. Há quatro meses, não vai a um restaurante “parei de comer fora para economizar”, explica.

Há dois anos a psicóloga Sara Moruzzi (24) e seu companheiro, o químico Guido Colucci (30), economizam na feira. Longe da casa dos pais, Moruzzi faz doutorado e recebe uma bolsa de estudo. Ela e o namorado cultivam no jardim de casa uma horta com o necessário para a alimentação. “As verduras que não conseguimos plantar nos dá a avó de Guido da sua horta”, conta. Até o pão Moruzzi faz em casa. No supermercado, compram somente produtos de limpeza, carne, macarrão e farinha de trigo. “Gastamos, em média, cem euros por mês com a feira”, contabiliza. Quando está fora, a psicóloga almoça no restaurante universitário, enquanto o seu namorado leva a comida de casa.

Com a clientela reduzida, sofrem também os estabelecimentos. Segundo Mateo Romano (43), proprietário de um restaurante, o movimento no seu local caiu consideravelmente: “20% a menos por mês”, diz. Para burlar a crise, Romano faz promoções com os pratos do dia e investe no bom atendimento. “Assim, consigo segurar alguns clientes, mas poucos. Quando falta dinheiro, os restaurantes são os primeiros a pagarem o preço”, lamenta. Sofrem também os empregados: “já estou pensando em reduzir o quadro de funcionários”, explica.

Sócio de um bar, Riccardo Bernasconi (31) sente menos a crise. Com a clientela composta por, na maioria, estudantes universitários, oferece sanduíches a 2,5 euros, um euro a menos com relação aos demais bares. Além disso, Bernasconi e seu sócio trabalharam “os interesses comuns” dos seus clientes. “Investimos em um lugar que possui uma alma, com cultura e acolhência para os estudantes”, explica. O bar de Bernasconi oferece não somente preços baixos, mas internet, manifestações culturais e “aqui a consumação não é obrigatória. Os clientes podem acessar a internet ou encontrar amigos para bater papo sem precisar consumir nada”, conta.

Os bares, restaurantes e pizzarias italianos têm muito com o que se preocupar. Segundo os dados do Istat, mais de 2,5 milhões das famílias residentes na Itália (11,1% das famílias no país) se encontravam em estado de pobreza em 2007. São quase 7,5 milhões de pobres na Itália, um total de 12,8% da população.

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