Quase 9.000 cientistas se reuniram nesta quarta-feira na fronteira entre a Suíça e a França para realizar o primeiro teste com o LHC (Grande Colisor de Hádrons), a máquina mais poderosa do mundo que tentará reproduzir o Big Bang, a explosão que deu origem ao Universo.
O teste realizado consistiu em atirar o primeiro feixe de prótons em um gigantesco túnel circular de pouco mais de 27 quilômetros de comprimento para observar a colisão das partículas e seus resultados. O equipamento tem como objetivo revolucionar a forma como enxergamos o Universo hoje.
Cientistas realizam primeiro teste do LHC, supermáquina de colisão de partículas que pretende descobrir segredos do Universo
Colocados no acelerador, os prótons deram uma volta completa no enorme túnel. O êxito do primeiro teste foi muito comemorado pelas dezenas de cientistas presentes na sala de controle do organismo, que aguardavam com expectativa o resultado.
"Tenho certeza de que funcionará", disse o diretor-geral do Cern, Robert Aymar, minutos antes do início do teste, em um ambiente ainda cheio de expectativa.
O diretor do projeto LHC, Lyn Evans, tinha anunciado antes que não era possível saber quanto tempo o feixe demoraria para colidir, o que ocorreu em pouco mais de 50 minutos.
Miniburaco negro
Uma grande apreensão tomou conta dos momentos iniciais antes do primeiro teste, conduzido por Evans. O grande temor por trás das pesquisas com o LHC são as notícias de que o experimento de colisões de hádrons (partículas como prótons e nêutrons) pela máquina poderia criar um "miniburaco negro" que engoliria a Terra.
"É irreal. Isso não faz sentido", disse James Gillies, o porta-voz do Cern (Organização Européia para Pesquisa Nuclear), organização responsável pelo LHC.
Por meio de testes com choques de prótons e nêutrons, os pesquisadores querem saber logo que segredos do Universo serão desvendados pelo aparelho, desde a origem da massa até a estrutura da matéria escura.
Situado sob a fronteira entre Suíça e França, a uma profundidade até 120 metros, o enorme colisor de partículas é constituído por 60 mil computadores e custou mais de US$ 10 bilhões.
Em entrevista à imprensa internacional, Gillies afirmou que o mais perigoso incidente que poderia ocorrer com o LHC é o equipamento se quebrar e acabar soterrado sob a Europa. Além disso, ele declarou que no estágio inicial o colisor só funcionará parcialmente, sendo que o potencial máximo do LHC só deverá ser alcançado após um ano.
"Nesta quarta-feira nós começaremos com pouco", disse. "O que nós estamos colocando para funcionar é uma pequena parcela de feixes a baixa intensidade. Isso nos dará experiência para conhecer melhor a máquina."
Somente depois do primeiro teste será possível saber se o maior acelerador de partículas do mundo funciona corretamente, mas os primeiros impactos das partículas não serão produzidos durante alguns meses. Só após esse tempo será iniciada a obtenção de dados.
Construção
A realização do LHC foi algo tão complexo quanto as experiências que devem ser feitas nele. "Primeiro, foi necessário construir a máquina no túnel, algo que começamos a fazer há muitos anos, e depois tivemos de aprender a resfriá-la", explicou o engenheiro espanhol Antonio Vergara Fernández.
Salvatore di Nolfi/Efe
Imã gigantesco é instalado em uma das cavernas do LHC (Grande Colisor de Hádrons), a máquina mais poderosa do mundo
"São quase 28 quilômetros de acelerador que precisaram ser resfriados a -271°C", afirma. "Isso começou a ser feito há quase um ano e meio, depois tivemos de conseguir acender a máquina e ver que todos os sistemas funcionavam, mas sem introduzir nenhuma partícula no acelerador."
Esse processo para verificar se a máquina estava pronta para receber os prótons "durou cerca de dois anos". O passo seguinte consistiu em preparar o feixe de prótons do mecanismo, para que entrassem no acelerador e pudessem colidir com outras partículas no túnel.
Está previsto para que o primeiro feixe de prótons comece a circular no acelerador no começo da manhã desta quarta. O objetivo do primeiro dia de funcionamento do LHC é conseguir que os prótons dêem uma volta em todo o anel gigante.
"No início, não conseguiremos. É um processo muito complexo", disse Vergara. "São 28 quilômetros e haverá defeitos que corrigiremos pelo caminho. Faremos o primeiro disparo, os prótons entrarão, se perderão, mas conseguiremos ver onde e como se perderam, e faremos as remodelações necessárias do controle central para depois voltarmos a tentar."
Com a Folha de S.Paulo e as agências Associated Press e Efe
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