domingo, 18 de maio de 2008

Zélia Gattai morre aos 91 anos.

Filha e neta de imigrantes italianos, Zélia Gattai faleceu, em Salvador, aos 91 anos.


A escritora Zélia Gattai, filha e neta de imigrantes italianos, detentora da cadeira 23 na Academia Brasileira de Letras, autora de "Anarquistas Graças a Deus", e viúva de Jorge Amado, morreu, na tarde deste sábado (17), aos 91 anos, segundo informou o Hospital da Bahia, onde ela estava internada há 31 dias. Zélia estava na Unidade de Terapia Intensiva do hospital, em pós-operatório de uma laparotomia para desobstrução intestinal. A família decidiu cremar o corpo da escritora e espalhar as cinzas na antiga casa do Rio Vermelho, da mesma forma como foi feito com Jorge Amado.

Em janeiro deste ano, Zélia Gattai foi distinguida com o prêmio Órdine della Stella, concedido pela Itália aos que no país e fora dele contribuem para o fortalecimento da história italiana. A entrega do prêmio, um broche em formato de estrela, foi feita pelo embaixador da Itália no Brasil, Michele Valensise, em nome do presidente da República italiana, Giorgio Napolitano. A solenidade foi realizada na casa da escritora, no bairro de em Brotas, em Salvador, onde ela já enfrentava sérios problemas de saúde.

Biografia

Zélia Gattai nasceu em São Paulo (SP), em 2 de julho 1916. É filha de Angelina Da Col e Ernesto Gattai, ambos italianos. Seu pai, que a registrou como nascida no dia 4 de agosto, fazia parte do grupo de imigrantes políticos que chegou ao Brasil no fim do século XIX, para fundar a célebre “Colonia Cecília” – tentativa de criar uma comunidade anarquista na selva brasileira. A família de sua mãe, católica, veio para o Brasil após a abolição da escravatura para trabalhar nas plantações de café, em São Paulo.

Na década de 1930, Zélia tornou-se amiga de diversos artistas e intelectuais da época, como Oswald de Andrade, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Rubem Braga, Zora Seljan, Aparecida e Paulo Mendes de Almeida, Letícia e Carlos Lacerda, Aldo Bonadei, Vinicius de Moraes e outros. Aos 17 anos, emprestado por um italiano, amigo de seu avô, o velho Ristori, recebe um livro de “um tal Jorge Amado, giovanotto inteligente, jornalista, escritor”, que fora a São Paulo vindo do Rio de Janeiro.

Em 1942, no dia 12 de agosto, nasce seu primeiro filho, Luís Carlos Veiga, filho de seu casamento com o intelectual e militante comunista Aldo Veiga.

No início de 1945, Jorge Amado, membro do Partido Comunista, se encontrava em São Paulo para participar de movimentos reivindicativos e comandar a organização de um comício para Luís Carlos Prestes, recém-saído da prisão. Zélia, que já lera os primeiros romances de Jorge Amado e o admirava, conhece-o pessoalmente na abertura do Congresso Brasileiro de Escritores, que se realizava no Teatro Municipal de São Paulo. Registrou Zélia em seu discurso de posse na ABL: “De mim ele não sabia nada, nem podia saber porque eu era apenas uma simples desconhecida, sem nenhuma credencial. Ele também não sabia que eu possuía uma estrela que o pusera em meu caminho.” Em meados de 1945, casaram-se. Dessa união nasceu, em 25 de novembro de 1947, o filho João Jorge Amado, no Rio de Janeiro.

Em fins de 1947 o registro do Partido Comunista foi cancelado e os parlamentares eleitos por essa legenda, entre os quais Jorge Amado, eleito deputado federal por São Paulo, foram expulsos do Parlamento. Sem condições de segurança para permanecer no Brasil, Jorge viajou para a Europa. Em 1948, Zélia viajou ao seu encontro. Permanecem na Europa durante cinco anos, entre Paris e Praga, participando intensamente da vida cultural européia. Zélia conhece personalidades como Pablo Neruda, Nicolás Guillén, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Aragon, Paul Éluard, Fréderic Juliot Curie, Picasso e Ilya Eremburg. Nesse período, adquire uma máquina fotográfica alemã, no mercado de Paris, iniciando-se na arte da fotografia.

Em 1949, conclui o curso de Língua e Civilização Francesa, na Sorbonne.

Zélia e Jorge passam a residir no Castelo da União dos Escritores, em Dobris, na Tchecoslováquia, no ano de 1950.

No dia 19 de agosto de 1951, nasce sua filha Paloma Jorge Amado, em Praga.

Retornando ao Brasil, em 1952, instala-se no apartamento do sogro, no Rio de Janeiro, morando na cidade durante dez anos. Fixa residência em Salvador, Bahia, no ano de 1963.

Começa sua produção literária escrevendo seu primeiro livro de memórias, Anarquistas Graças a Deus, lançado em 1979, no Rio de Janeiro. Nesta obra narra a vida de seus pais, a realidade dos imigrantes italianos no Brasil e sua infância em São Paulo. Um Chapéu para Viagem é seu segundo livro, editado em 1982. A obra narra o começo de sua vida com Jorge Amado e as histórias dos Amado, contadas por Lalu, mãe do escritor.

No ano seguinte é lançado, em Salvador, o livro Pássaros Noturnos do Abaeté, com gravuras de Calasans Neto e texto de Zélia Gattai. Em 1987, publica Reportagem Incompleta (fotobiografia), com fotografias de sua autoria. Torna-se membro do Conselho Curador da Fundação Banco do Brasil.

Edita Jardim de Inverno, em 1988. O livro é lançado na Fundação Casa de Jorge Amado. A obra narra os momentos políticos difíceis, vividos entre 1949 e 1952. É homenageada com uma exposição sobre o tema “Jardim de Inverno”, pela Fundação Casa de Jorge Amado.

No mundo da ficção, estréia com o livro infantil Pipistrelo das Mil Cores, em 1989, com ilustrações de Pink Wainer. Dois anos depois publica O segredo da Rua 18, também dirigido às crianças, ilustrado por Ricardo Leite.

Volta às memórias com Chão de Meninos, lançado em 1992. A obra, que retrata o retorno do exílio, no período de 1952 a 1963, é dedicada ao marido, em comemoração aos seus oitenta anos.

O próximo livro é um romance, Crônica de uma Namorada, de 1995. Relata a época do surgimento da televisão e a descoberta do amor por uma adolescente. No mesmo ano sua filha, Paloma Jorge Amado, publica, em homenagem aos pais, o ABC dos 50 Anos de Amor de Zélia e Jorge.

Edita, em 1999, A Casa do Rio Vermelho. No ano de 2000, lança na Bienal do Livro, em São Paulo, Città di Roma, ilustrado com fotografias de época. A obra narra a saga de seus familiares e seus primeiros anos em São Paulo. Publica, também, no mesmo ano, o livro infantil Jonas e a sereia, com ilustrações de Roger Mello.

Em 2001 fica viúva de Jorge Amado. Publica Códigos de Família, livro de memórias. Seu livro mais recente é Jorge Amado: um Baiano Sensual e Romântico, lançado em 2002.

Sua obra literária gerou a adaptação de Anarquistas Graças a Deus para minissérie da Rede Globo; a peça de teatro adaptada de seu segundo livro Um Chapéu para Viagem; a edição comemorativa com fotografias da autora e seus familiares pelos 20 anos de Anarquistas Graças a Deus.

Prêmios e homenagens

Prêmio Dante Alighieri (1980);
Prêmio Revelação Literária, concedido pela Associação de Imprensa (1980);
Diploma de Sócia Benemérita da Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel;
Placa “As dez mulheres mais bem sucedidas do Brasil” pela Mac Keen (1980);
Título de Sócia Benemérita do Clube Baiano da Trova (1981);
Título de Cidadã Honorária da Cidade de Salvador, Bahia (1984);
Título de Cidadã Honorária da Cidade de Mirabeau (1985);
Título no grau de Grande Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique, concedido pelo governo português (1986);
Diploma de Madrinha dos Trovadores, concedido pela Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel;
Medalha do Mérito Castro Alves, da Secretaria da Educação e Cultura do Estado da Bahia (1987);
Diploma de Reconhecimento do Povo Carioca pelos relevantes serviços prestados à Cultura e ao Turismo, da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro;Prêmio Destaque do Ano (1988);
Eleita A Mulher do Ano pelo Conselho Nacional da Mulher (1989);
Diploma de Magnífica Amiga dos Trovadores Capixabas, Espírito Santo (1991);
Comenda das Artes e das Letras dada pela ministra da França, Caterine Trautmann (1998);
Comenda Maria Quitéria pela Câmara Municipal de Salvador (1999);
Criação da Fundação de Cultura e Turismo Zélia Gattai, pela Prefeitura de Taperoá (2001).

Fonte: Oriundi

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