14/05/2009
O ex-ativista político e escritor italiano Cesare Battisti disse em entrevista publicada na revista francesa Paris Match que tem medo de que o Brasil ceda à pressão do governo italiano pela sua extradição.
"Temo que o Estado brasileiro não possa enfrentar a pressão do governo italiano", afirmou o ex-ativista. "O governo italiano fez de mim o chefe, o assassino, o monstro. Ele exerce muitas pressões políticas. É um interesse exagerado, desproporcional, que eles têm por mim. Eu era um militante qualquer. E por quê tudo isso? Porque eu não aceito a versão deles da história? Por que eu não aceito as mentiras deles?", se defende.
Battisti, preso no Brasil desde 2007, é ex-membro da organização de esquerda Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) e foi condenado na Itália, em 1993, à prisão perpétua pela autoria de quatro assassinatos cometidos na década de 70. Ele se encontra atualmente detido na Penitenciária de Papuda, em Brasília.
Na entrevista, o ex-ativista revela que recomeçou a fumar e que toma antidepressivos e remédios para poder dormir. Ele afirma estar angustiado com a decisão sobre sua extradição e diz que pensa em suicídio caso a decisão final seja o seu retorno à Itália. Segundo Battisti, cabe a ele e não a Itália decidir o momento de sua morte.
Ele negou uma vez mais ser o autor dos assassinatos pelos quais foi condenado e falou também sobre o novo livro que está escrevendo. O livro ainda "fala sobre mim. Não aguento mais escrever relatos autobiográficos. Mas eu escrevo em terceira pessoa. Tomei muito mais distância. Eu me interesso pelo Brasil. Eu me inspiro nas histórias dos presos. É através deles que eu abro as janelas desse país (...) Em meu livro é o Brasil que eu pretendo mostrar", disse Battisti.
Nesta terça-feira, uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados do Brasil discutiu o caso da extradição do ex-ativista italiano. Na ocasião, o ministro da Justiça brasileiro, Tarso Genro, afirmou que o governo da Itália pretende usar o caso como símbolo dos episódios violentos que marcaram o país europeu nos anos 70 e que o Brasil "não vai se servir para entregar alguém que será bode expiatório dos anos de chumbo da Itália".
A íntegra da entrevista exclusiva de Battisti será difundida pelo canal franco-alemão Arte no dia 16 de maio próximo.
ANSA
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