sexta-feira, 2 de abril de 2010

Mais do que o contexto, uso de dicionário facilita o estudo da língua italiana.

No estudo de línguas estrangeiras, muitos professores defendem exclusivamente o uso do contexto para a compreensão das palavras. A maioria não recomenda, ou mesmo ignora a consulta em dicionários. Uma pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP mostrou exatamente o contrário, ou seja, que o uso do dicionário é mais eficaz que o contexto para o efetivo entendimento de uma palavra desconhecida.

A professora de italiano Ângela Maria Tenório Zucchi, autora da pesquisa, defendida como doutorado em março de 2010, explica que dentro do ensino de línguas estrangeiras existem várias posturas. Alguns professores aconselham o uso do dicionário e outros não. E quando aconselham, é sempre o dicionário monolíngue na língua estrangeira. “Muitos livros de formação de docentes indicam o uso de DVDs, músicas, revistas, mas ignoram completamente o dicionário como ferramenta de ensino da língua”, ressalta.


A professora trabalhou com a compreensão escrita, ou seja, com a capacidade do estudante ler e compreender o texto e, especificamente em sua pesquisa, o significado de determinadas palavras. “Por exemplo, o verbo descer, em italiano scendere, assume diferentes nuances de significação se você está em um veículo, num prédio ou em uma rua”, exemplifica.

Os estudantes sem dicionário apresentaram mais dificuldades de entendimento

Ângela realizou testes com 24 alunos de graduação em Letras com habilitação em Italiano, e com conhecimentos básicos sobre a língua. Os estudantes eram orientados a ler quatro textos, em italiano, e identificar o significado de 40 palavras (unidades lexicais) marcadas nos textos. Para isso, eles foram divididos em três grupos: um sem dicionário, outro com um dicionário monolíngue e outro com dicionário bilíngue. Ambos dicionários disponíveis gratuitamente on-line. “O objetivo era saber se o dicionário contribui para o entendimento de uma palavra, e se há diferenças de desempenho entre os alunos que utilizaram os dicionários bilíngue e monolíngue”, esclarece a pesquisadora.

Um dos termos analisados foi a palavra italiana piccioni, plural de piccione, que significa pombo em português. No dicionário bilíngue, todos entenderam a tradução literal, que neste caso específico facilitou o entendimento. No monolíngue, a definição constava descrição e a que se destina como um “colombo doméstico de tamanho médio”, e também “criado para ser consumido”, ou seja, na Itália é comum se comer pombos. “Isso é uma informação cultural que só o dicionário monolíngue dá. O ruim é que os alunos não entendendo toda a definição escrita, não entendem a diferença cultural”, explica Ângela. No grupo sem dicionário, nenhum estudante conseguiu entender o significado da palavra.

Em outros verbetes, o dicionário monolíngue foi mais eficaz como é o caso da palavra tegame, que é um tipo de panela baixa e com duas alças para segurar. A panela, genericamente falando, é representada pela palavra pentola. Nesses casos, a tradução do dicionário bilíngue traz apenas o termo panela, sem especificações, o que dificultou o entendimento pelos estudantes. “O monolíngue nesses casos foi mais preciso, porque especificava diferentes tipos de panela”, analisa a professora. O grupo sem dicionário também encontrou mais dificuldades para entender essa palavra.

No caso do dicionário bilíngue, se o significado apresentado no verbete coincide com o contexto estudado, seu uso é mais eficaz. No caso do monolíngue, seu uso é mais eficaz quando aparece, além da definição, as informações “a que se destina” e “qual o uso”. Pois esses termos contextualizam as palavras, aumentando o grau de entendimento do estudante.

Para Ângela é perfeitamente seguro afirmar que estudar com o auxílio do dicionário é melhor que apenas tentar entender as palavras a partir do contexto apresentado. Por outro lado, não é possível indicar se é melhor estudar com o dicionário bilíngue ou com o monolíngue. “O estudo mostrou que para alguns casos o bilíngue é mais eficaz e em outros o monolíngue é melhor. A compreensão depende muito de cada palavra, do contexto em que ela está inserida, do tipo do dicionário utilizado e da competência do usuário em usar o dicionário”, analisa.

Falta de atenção

Ângela observou respostas inadequadas quando o estudante não seguiu a leitura de todas as definições da entrada no dicionário. “O aluno não lia a definição até o final – e esse é um dado frequente em estudos sobre o assunto – provocando erros de entendimento. É preciso ler toda definição e outras informações contidas no verbete para que o dicionário seja bem utilizado”, explica.

Redação Oriundi

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