No estudo de línguas estrangeiras, muitos professores defendem exclusivamente o uso do contexto para a compreensão das palavras. A maioria não recomenda, ou mesmo ignora a consulta em dicionários. Uma pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP mostrou exatamente o contrário, ou seja, que o uso do dicionário é mais eficaz que o contexto para o efetivo entendimento de uma palavra desconhecida.
Os estudantes sem dicionário apresentaram mais dificuldades de entendimento
Ângela realizou testes com 24 alunos de graduação em Letras com habilitação em Italiano, e com conhecimentos básicos sobre a língua. Os estudantes eram orientados a ler quatro textos, em italiano, e identificar o significado de 40 palavras (unidades lexicais) marcadas nos textos. Para isso, eles foram divididos em três grupos: um sem dicionário, outro com um dicionário monolíngue e outro com dicionário bilíngue. Ambos dicionários disponíveis gratuitamente on-line. “O objetivo era saber se o dicionário contribui para o entendimento de uma palavra, e se há diferenças de desempenho entre os alunos que utilizaram os dicionários bilíngue e monolíngue”, esclarece a pesquisadora.
Um dos termos analisados foi a palavra italiana piccioni, plural de piccione, que significa pombo em português. No dicionário bilíngue, todos entenderam a tradução literal, que neste caso específico facilitou o entendimento. No monolíngue, a definição constava descrição e a que se destina como um “colombo doméstico de tamanho médio”, e também “criado para ser consumido”, ou seja, na Itália é comum se comer pombos. “Isso é uma informação cultural que só o dicionário monolíngue dá. O ruim é que os alunos não entendendo toda a definição escrita, não entendem a diferença cultural”, explica Ângela. No grupo sem dicionário, nenhum estudante conseguiu entender o significado da palavra.
Em outros verbetes, o dicionário monolíngue foi mais eficaz como é o caso da palavra tegame, que é um tipo de panela baixa e com duas alças para segurar. A panela, genericamente falando, é representada pela palavra pentola. Nesses casos, a tradução do dicionário bilíngue traz apenas o termo panela, sem especificações, o que dificultou o entendimento pelos estudantes. “O monolíngue nesses casos foi mais preciso, porque especificava diferentes tipos de panela”, analisa a professora. O grupo sem dicionário também encontrou mais dificuldades para entender essa palavra.
No caso do dicionário bilíngue, se o significado apresentado no verbete coincide com o contexto estudado, seu uso é mais eficaz. No caso do monolíngue, seu uso é mais eficaz quando aparece, além da definição, as informações “a que se destina” e “qual o uso”. Pois esses termos contextualizam as palavras, aumentando o grau de entendimento do estudante.
Para Ângela é perfeitamente seguro afirmar que estudar com o auxílio do dicionário é melhor que apenas tentar entender as palavras a partir do contexto apresentado. Por outro lado, não é possível indicar se é melhor estudar com o dicionário bilíngue ou com o monolíngue. “O estudo mostrou que para alguns casos o bilíngue é mais eficaz e em outros o monolíngue é melhor. A compreensão depende muito de cada palavra, do contexto em que ela está inserida, do tipo do dicionário utilizado e da competência do usuário em usar o dicionário”, analisa.
Falta de atenção
Redação Oriundi
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